Cadeia de produção exemplar no Paraguai começa nos pequenos agricultores e termina nas exportações

Os stakeholders paraguaios na produção de cânhamo estão a desenvolver uma cadeia de fornecimento baseada na produção que começa nas comunidades indígenas locais e termina num crescente volume de exportações.

Com uma lei sobre o cânhamo em vigor desde 2019, as empresas locais têm progredido rapidamente no fabrico e exportação de matérias-primas e produtos acabados, disse Lorenzo Rolim da Silva, presidente da Associação Latino-Americana do Cânhamo Industrial (LAIHA).

As comunidades indígenas, que sofreram historicamente as piores consequências do tráfico de estupefacientes e da falta de oportunidades económicas, estão agora a produzir legalmente cânhamo para cereais e fibras, disse Rolim da Silva. As sementes estão a ser doadas por empresas locais autorizadas a produzir cânhamo. Além disso, são dadas instruções técnicas sobre o modo de cultivo aos agricultores através de parcerias entre as empresas e o governo local.

Valor acrescentado

“O Paraguai representa uma vez mais um marco histórico ao tornar-se a primeira nação do mundo a plantar canábis industrial com uma comunidade indígena”, disse Marcelo Demp, CEO da empresa paraguaia de alimentos Healthy Grains e Vice-Presidente da LAIHA.

Beatriz Fretes, CEO da fabricante de produtos de saúde e beleza Better Body Hemp S.A., disse que apoiar os pequenos agricultores camponeses é uma aposta na responsabilidade empresarial e social para obter valor acrescentado.

“Enquanto empresa, acreditamos que os nossos produtos, agora exportados para mais países da América Latina, têm o valor acrescentado de contribuir para uma causa social”, disse Fretes sobre as matérias-primas que entram na sua linha de cremes para o rosto, óleos hidratantes, produtos feitos com óleo de sementes de cânhamo e outros ingredientes naturais. Os agricultores familiares indígenas cultivam as sementes a partir das quais esses óleos são prensados.

Inclusão

“É muito importante a inclusão dos povos indígenas através deste tipo de produção, especialmente na área das plantas medicinais, que tão bem conhecem”, disse Jennifer Snaider, presidente da Deutsch Import S.R.L., empresa paraguaia que fabrica chás de folhas de cânhamo e outras ervas paraguaias sob a marca Cannafusion, e uma manteiga de amendoim com corações de cânhamo, chamada Nature Seeds. Os produtos são desenhados e fabricados no Paraguai.

“O impacto da inclusão é recuperar a cultura de sustentabilidade da economia indígena, uma necessidade e uma dívida que temos há muito para com os nossos antepassados”, disse Snaider.

Captura de carbono

Demp afirmou que o Paraguai adotou também a validação de captura de carbono ao abrigo da SGS, uma empresa de testes, inspeção e certificação baseada nos EUA, que mede o impacto ambiental de empresas e indústrias.

“Estamos a produzir produtos acabados com base em canábis não-psicoativa; geramos um grande impacto socioeconómico e, ao mesmo tempo, estamos a reduzir o índice de carbono no ar”, disse Demp – com o objetivo de tornar o Paraguai o primeiro país neutro em carbono na região nos próximos anos.

Espera-se investimento

O Presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, declarou o cânhamo como “cultura de interesse nacional” e o governo está a ajudar a moldar o setor do cânhamo no país através de incentivos e apoios destinados a comercializar o cânhamo industrial, promovendo a investigação e ajudando os muitos pequenos agricultores e cooperativas do país. 

Rolim da Silva disse que os avanços no Paraguai representam um sinal de progresso em toda a América Latina, onde o contexto legal para o cânhamo ainda está a ser delineado país a país.

“Contamos com um grande interesse do capital internacional para investir na região, uma vez que os enquadramentos regulamentares estão a avançar e a adaptar-se”, disse Rolim da Silva.