Como o cânhamo pode levar a uma mudança polar para curar a atmosfera da Terra

Paul J. von Hartmann

Por Paul J. von Hartmann

Há muito que me preocupo com . . . a forma como as nossas principais medidas económicas não tiveram em conta a degradação ambiental e a dissipação dos recursos. Se . . . o crescimento não é sustentável por estarmos a destruir o ambiente… as nossas estatísticas devem alertar para esse facto. Mas como o PIB [Produto Interno Bruto] não incluiu o esgotamento de recursos e a degradação ambiental, temos uma perspetiva geral demasiado cor-de-rosa”. ~ Joseph E Stiglitz

A humanidade não conseguiu avaliar realisticamente a importância funcional e perdurável dos sistemas naturais integrados. Ao colocar o foco nas toxinas ambientais, a humanidade tem nos últimos 100 ignorado as leis da natureza com o objetivo de ganhar mais dinheiro anos. Afastados do respeito moral pela natureza, a qualidade de vida na Terra para as gerações futuras não passa dum pensamento empresarial, normalmente descartado como demasiado dispendioso para merecer uma preocupação significativa.

As nossas maiores indústrias teriam de abrir mão de triliões de dólares para se tornarem ambientalmente responsáveis. As contas feitas ao ar limpo, à água não poluída e ao solo não contaminado tornariam várias das nossas maiores indústrias não lucrativas ou obsoletas. A “realidade política” obedece ao culto do industrialismo tóxico, negando as antigas tradições de gestão da Terra. As gerações futuras foram esquecidas sob a égide financeira, abandonadas em troca do lucro imediato a qualquer custo.

‘Insustentável por natureza’

Com o avançar do tempo, o industrialismo químico provou ser insustentável por natureza. Após décadas de envenenamento da atmosfera, água, ar e solo da Terra, somos agora forçados a admitir que estamos perante a extinção. Atolados em resíduos químicos e radioativos, não podemos continuar a ignorar ou negar que são necessárias alterações de fundo imediatamente.

Alimentada pelo PIB e pelo desejo insaciável da indústria de controlar os recursos energéticos tóxicos distribuídos de forma desigual, a desintegração radical da ordem natural está a conduzir à extinção global. Ao ignorar a importância primária dos sistemas integrados da natureza, a humanidade continua a consumir toxinas, sem prestar particular atenção ao previsível resultado. A humanidade está atualmente nas fases iniciais da desintegração dos sistemas. O ponto onde o colapso sistémico se torna irreversível será alcançado nas nossas vidas, se é que ainda não o foi.

As boas notícias

A boa notícia é que a agricultura do cânhamo de canábis oferece várias propriedades únicas e essenciais, necessárias para reparar o equilíbrio sistémico da Terra. Mais importante ainda: o cânhamo é a cultura mais eficiente, distribuída a nível global, capaz de transformar a luz solar em energia utilizável.

As designadas “externalidades não quantificáveis” são elementos imensuráveis e inestimáveis onde não podemos colar uma etiqueta com um preço. A qualidade de vida, o ar puro, a água potável e o solo rico são vetores universalmente valorizados, muitas vezes num sentido abstrato, frequentemente espiritual, mas não de forma empresarial, numérica. Não podendo ser convertidos em algarismos, os elementos não quantificáveis são normalmente deixados de fora da equação de exploração de recursos. Inevitavelmente, o preço real do lucro industrial acaba por ser pago por pessoas e animais de estratos inferiores, tanto geográfica como cronologicamente. As gerações futuras caminham para uma saúde degenerativa, um ambiente degradado e um colapso brutal da ordem social humana. Isto só poderá ser travado por uma campanha imediata em prol da agricultura orgânica, sem OGM, coordenada a nível global.

A época de plantio da primavera de 2020 é extremamente importante. Não sabemos quantas épocas de cultivo nos restam antes de as “falhas sistémicas em cascata” e “eventos extinguidores não lineares” se tornarem irreversíveis. (2) As populações de espécies-indicadoras têm caído há décadas. Mas os seres humanos continuam a consumir recursos tóxicos e gaiacidas, que degradam o ambiente da Terra, como se não houvesse sequer alternativas. Há muitas coisas que podem ser feitas para curar o planeta; mas há apenas uma planta que tem todas as propriedades necessárias para cumprir os parâmetros necessários desta missão, no tempo que nos resta para fazer a diferença.

Reparar & curar

O cânhamo da canábis tem qualificativos que o tornam único para substituir os combustíveis fósseis e a energia nuclear. O cânhamo pode reparar a atmosfera terrestre, alimentar o mundo, acabar com a disparidade económica, expandir os terrenos aráveis e purificar o ciclo hidrológico. O cânhamo pode também curar os nossos corpos e tranquilizar as nossas mentes.

Uma planta tão útil e vantajosa parece demasiado boa para ser verdade, sendo um assunto particularmente complexo após oito décadas de propaganda centrada na “guerra às drogas”. Resta saber se a nossa espécie consegue trocar o “ilegal” pelo essencial.

A propalada “realidade política” atual pode ser caracterizada como “a canábis é valiosa, mas (apesar de décadas de ciência sólida provarem o contrário) o THC ainda é suficientemente “perigoso” para exigir supervisão e regulamentação governamental”. As mentiras do filme “Reefer Madness” persistem, a escala de produção está a ser suprimida e a disponibilidade restringida.

À medida que aumenta a perceção sobre as benesses ambientais singulares e essenciais da canábis, um mercado verdadeiramente livre acabará por evoluir as infraestruturas, em resposta à influência dos combustíveis limpos, baratos e à base de cânhamo. O meio mais eficiente do ponto de vista temporal, capaz de ser globalmente distribuível e rentável, ao ponto de fornecer energia a biliões de pessoas enquanto a Terra é curada, encontra-se no caule da planta do cânhamo.

Como a canábis é a única cultura que produz uma nutrição completa e biocombustíveis sustentáveis numa mesma colheita, a segurança alimentar, a nutrição e a disponibilidade terapêutica de base herbácea são significativamente melhoradas. Os caules ricos em celulose podem ser colhidos e biodigeridos para produzir hidrogénio, o que sustenta a produção elétrica. As sementes e folhas têm proteínas, aminoácidos, ácidos gordos essenciais, vitaminas, minerais, clorofila, entre muitos outros.

Um cultivo ‘pioneiro’

A expansão dos terrenos aráveis através dum cultivo “pioneiro” não invasivo, que produz uma nutrição completa para o homem e animais, além de energia sustentável – à medida que o ar, a água e o solo são reparados –, é essencial para aumentar a capacidade deste planeta. Se isto não for feito a curto prazo, a deslocação de populações e a extinção de espécies continuará a piorar.

Todas as nações devem encetar esforços coordenados, numa campanha agrícola global, redirecionando as forças dos exércitos para os agricultores. A missão é plantar canábis em todos os solos e climas adaptáveis à planta. Essa seria a forma mais lógica de alcançar condições atmosféricas equilibradas, e uma distribuição de recursos essenciais no menor tempo possível.

Se a humanidade conseguir alcançar a necessária alteração de fundo no valor da canábis, de “ilegal” para essencial, então os nossos filhos e netos sobreviverão no planeta Terra, ultrapassando a barreira do século XXI.