Fabricantes de produtos de saúde & beleza são os primeiros vencedores de acordo com as novas regras tailandesas

A Tailândia parece estar a abrir espaço para o cânhamo industrial, já que a Comissão de Controlo de Narcóticos (NCC) concordou em retirar a canábis da lista de substâncias controladas. Ainda assim, as partes de plantas que contêm mais de 0.2% de THC continuam a ser consideradas narcóticos.

Apesar de a mudança de política permitir a compra, venda e utilização de todas as partes da canábis, desde que em conformidade com os níveis legais de THC, a marijuana recreativa continua a ser ilegal, pois as plantas e extratos de canábis com níveis mais elevados de THC permanecem regulados, disse Chaiwat Sowcharoensuk, analista da Krungsri Research sediada em Banguecoque.

Na Tailândia, onde a canábis tem enfrentado um caminho turbulento e incerto, o anúncio do NCC parece reverter uma política anunciada pelo comité há dois anos, quando disse que permitiria THC em plantas de cânhamo até 1.0% em peso seco. Este anúncio, feito em dezembro de 2019, alegadamente revogou e substituiu as regras anteriores. Estas tinham fixado o limite de THC para o cânhamo em 0.1%, 0.2% ou 0.3%, no máximo.

Quem beneficiará com isto

As alterações anunciadas este mês permitirão que os cosméticos, produtos de tratamento da pele, produtos para o cabelo e outros fabricantes incluam o CBD derivado de flores e outros canabinóides nas suas fórmulas, neste que é um dos maiores mercados do sudeste asiático para produtos de higiene pessoal.

“Os produtores de sabonetes, produtos de beleza e cosméticos . . . serão provavelmente os que mais beneficiarão com a descriminalização”, disse Sowcharoensuk.

Ao mesmo tempo que cresce em popularidade entre os tailandeses, o CBD não é tão comum na Tailândia como noutros países. Os produtos podem ser encontrados em lojas de medicina alternativa e de saúde natural, e estão disponíveis online.

Procura por produtos orgânicos

Mas um estudo do Conselho de Comércio e Desenvolvimento de Hong Kong (HKTDC) no ano passado concluiu que as prioridades dos consumidores estão a mudar “para uma abordagem holística relativamente à saúde e ao ambiente”. A procura por produtos orgânicos e naturais para a pele e cosméticos está a aumentar. O HKTDC recomendou às marcas estabelecerem preços mais elevados para os sectores premium e especializados, em produtos de tratamento de pele naturais e orgânicos, maquilhagem e cuidados capilares. 

De um modo geral, o HKTDC constatou que a afluente classe média tailandesa tem “um apetite insaciável por novos produtos de beleza” à medida que as despesas globais planeadas de cuidados pessoais pelos consumidores se expandem progressivamente. O HKTDC disse que o crescimento do mercado está a ser impulsionado pelas redes sociais, o que tem dado aos vendedores a capacidade de atingir segmentos de consumidores mais especializados.

Mercado de $4.2 mil milhões

A empresa de investigação Statista.com estima que o mercado tailandês de cuidados pessoais atingiu $4.2 mil milhões em 2021, e prevê um crescimento a uma taxa de 5.5% até 2025. Para a Statista, as exportações encontram-se atualmente em cerca de $2.4 mil milhões, à medida que os produtores se mobilizam agressivamente para estabelecer os cosméticos e produtos de cuidado da pele tailandeses noutros mercados.

O Ministério da Saúde Pública da Tailândia retirou as sementes e óleos de cânhamo da lista de substâncias controladas do país em 2019, tornando basicamente legal a importação e venda de CBD. O órgão passou a permitir que o cânhamo fosse utilizado na produção de cosméticos ao abrigo de um despacho emitido em Janeiro de 2021, embora na altura os produtores estivessem limitados aos derivados de sementes, pois as flores permaneciam na lista tailandesa de narcóticos.

Cânhamo… caseiro

A nova política de legalização da canábis com menos de 0.2% de THC (cânhamo) aguarda a assinatura do ministro da saúde tailandês, e entraria em vigor 120 dias após a sua publicação no diário oficial do governo.

Ainda que alguns meios de comunicação social tenham noticiado que a nova política permitiria o cultivo individual da “canábis” em casa – a Reuters reportou que as alterações “abririam caminho para as famílias cultivarem a planta” – de acordo com uma interpretação estrita da lei, esses cultivadores seriam apenas capazes de cultivar plantas industriais de cânhamo.

Em 2018, a Tailândia tornou-se a primeira nação da Ásia Oriental a legalizar e estabelecer regulamentos para a canábis medicinal, permitindo aos médicos a emissão de prescrições.