Novas leis no Brasil e Argentina podem despoletar uma ‘mudança radical’ nos mercados globais

As leis à beira de aprovação no Brasil e Argentina podem provocar “uma mudança radical na dinâmica global da produção de cânhamo industrial e canábis medicinal”, segundo o principal grupo de cânhamo industrial da América Latina.

Lorenzo Rolim da Silva, presidente da Associação Latino-Americana do Cânhamo Industrial, afirmou que, caso as novas leis sobre o cânhamo sejam promulgadas, os dois países poderão atingir todo o seu potencial nos mercados internacionais.

“A conceção das duas propostas é bastante forte e moderna, colocando estes países em conformidade com os regulamentos em vigor na União Europeia e América do Norte”, disse Rolim da Silva.

No Brasil, se a votação acontecer antes do final de 2021, a regulamentação poderá entrar em vigor no próximo ano. A proposta de lei argentina, aprovada já pelas comissões legislativas sobre agricultura, finanças e segurança nacional, aguarda a fase final de aprovação pelo senado, com a possibilidade de entrar também em vigor em 2022.

A normalização do cânhamo

As duas nações passariam a tratar o cânhamo industrial da mesma forma que as culturas comuns, como soja ou milho, sob supervisão apenas dos ministérios da agricultura argentino e brasileiro, sem envolvimento das agências farmacêuticas.

Com a agricultura a ter um papel decisivo na economia destes países, as novas leis permitiriam que o cânhamo entrasse na corrente agrícola dominante em duas das maiores nações agrícolas mundiais, ambas vantajosamente localizadas para o cultivo do cânhamo.

As leis facilitariam também o acesso a medicamentos à base de canabinóides em grandes mercados domésticos de consumo, em rápido crescimento, que atualmente dependem de importações. A produção local poderia suplantar essas importações com produtos mais baratos e de melhor qualidade, segundo Rolim da Silva.

O potencial do Brasil

O Brasil é o quarto maior país agrícola do mundo, atrás somente da China, Índia e Estados Unidos, com potencial para cultivar cânhamo em grande escala e abrir oportunidades para a produção de cereais e fibras.

Embora o cânhamo seja relativamente desconhecido como alimento entre os 212 milhões de consumidores do país, a sua comercialização poderá alterar futuramente esse contexto. O cânhamo pode juntar-se imediatamente a outras mercadorias exportadas atualmente pelos agricultores do país.

O Brasil é também líder na indústria global de celulose e papel, um mercado principalmente exportador, no qual o cânhamo também poderá crescer à medida que a procura por matérias-primas sustentáveis aumenta.

Os observadores afirmam que o potencial da canábis medicinal no Brasil – que ocupa o quarto lugar entre os mercados farmacêuticos globais – poderá aumentar com a aprovação da nova legislação, com estimativas de que o setor poderá atingir um volume de negócios de $4.7 mil milhões nos próximos três anos.

A abordagem integral da Argentina

As indústrias do cânhamo e canábis medicinal na Argentina poderão gerar 10,000 novos empregos, $500 milhões em vendas internas e $50 milhões em exportações anuais, segundo estimativas governamentais.

O projeto de lei na Argentina defende uma abordagem integral ao cânhamo, explorando também essa cultura para benefícios na área da saúde e ambiente, além do seu potencial económico. Para o governo, o cânhamo pode servir de substituto para o setor do tabaco em contração, estimulando a inovação na tecnologia e no desenvolvimento de produtos.

Novas cadeias de valor e investimento

A posição da Argentina enquanto líder mundial na produção agrícola, a sua especialização em investigação científica, a sua estrutura laboratorial e a vasta rede de fornecedores tornam este país uma futura potência médica na canábis.

O governo afirmou que a lei proposta permitirá aos consumidores argentinos um maior acesso à canábis medicinal, impulsionando o desenvolvimento económico ao estabelecer novas cadeias de valor nas províncias argentinas.

Os stakeholders acreditam que a promulgação da nova lei do país despoletará certamente uma onda de investimento nos setores da canábis no mercado argentino, que conta com 45 milhões de consumidores.