Os materiais de construção em cânhamo podem vir a desempenhar um papel central na renovação ambiental

Por Robert Ziner, CIHC, Canadá

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA), o setor da construção tradicional representa até 30% do total anual das emissões de gases com efeito de estufa a nível mundial. Estas emissões, caso não sejam controladas, irão no mínimo duplicar nos próximos 20 anos. O cânhamo pode ajudar.

Os projetos de construção com base no cânhamo, residenciais ou comerciais, podem já ser encontrados em todo o mundo, inclusive nos EUA. Embora os custos do material derivado do cânhamo sejam relativamente elevados, isso deve-se apenas ao número limitado de fornecedores, o que muitas vezes exige o envio de simples palhas a longas distâncias.

Espaços habitacionais mais saudáveis

Os materiais de construção derivados do cânhamo, feitos a partir dos caules da planta, estão a ter uma aceitação cada vez maior, pois permitem criar espaços habitacionais saudáveis. Segundo o U.S. Green Building Council (USGBC), o cânhamo é uma matéria-prima não tóxica, dotada de propriedades únicas que podem ser aplicadas em várias vertentes da construção.

Os caules de cânhamo têm dois subprodutos importantes para a indústria da construção. As rígidas fibras exteriores da planta, ou fibras liberianas, são uma alternativa competitiva e sustentável à lã de fibra de vidro como material isolante. O isolamento facultado pelas fibras liberianas do cânhamo cria uma massa hermética com perdas mínimas de calor, sem originar bolor ou mofo. A utilização deste isolamento possibilita que qualquer estrutura cumpra automaticamente os standards de design LEED no que diz respeito à eficiência energética. O isolamento com fibras liberianas do cânhamo também tem excelentes propriedades acústicas e alta resistência ao fogo.

O espesso núcleo do talo (haste, faca ou cana), quando cortado e misturado com cal e água para criar hempcrete, permite construir excelentes paredes em hempcrete, e já existem no mercado soluções para materiais de construção em cânhamo para estruturas de suporte de cargas e para estruturas de não suporte.

Eficiência energética

As estruturas construídas em hempcrete são altamente eficientes em termos energéticos dada a baixa condutividade térmica, elevada capacidade térmica e altos valores de isolamento. Os testes de controlo de temperatura indicam que uma casa em hempcrete é cerca de 80% mais eficiente em termos energéticos do que uma construção convencional, garantindo uma “redução” anual de carbono CO2 de cerca de 8000 kg. O isolamento à base de cânhamo e os produtos acabados mantêm-se energicamente eficientes durante toda a sua vida útil. Falamos de quanto tempo? Em Nagano, no Japão, há uma casa de cânhamo, patrimônio nacional, construída em 1698 – há mais de 300 anos. Ainda está de pé!

Apesar de os custos de construção em hempcrete poderem ser até 10% mais elevados do que as tradicionais estruturas residenciais em madeira cobertas com tapume, os reduzidos custos de energia compensam grande parte da diferença. A construção em hempcrete já tem um preço competitivo em relação às estruturas de tijolo laminado. E os materiais de cânhamo têm vantagens adicionais ao diminuírem os custos com o aquecimento e ar condicionado, bem como uma melhor ventilação em toda a estrutura fechada. Quiçá mais importante ainda, os materiais de construção em cânhamo criam um espaço habitacional mais saudável e confortável.

A expectativa é que os preços do cânhamo sofram uma descida à medida que as iniciativas de processamento de palha de cânhamo crescem, contribuindo para mais produtos de fibra de cânhamo no mercado com qualidade.

Sequestro de carbono

Considerado o material de construção mais energicamente eficiente no mercado atual, o hempcrete é também uma fantástica ferramenta de sequestro de carbono.

Ao ajudar a cadeia de produção de materiais de construção, o cultivo de cânhamo aborda problemas sérios indicados pelo Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas da ONU, uma de várias entidades que aborda estas questões. O painel recomendou aos agricultores concentrarem-se na recuperação dos solos excessivamente cultivados e desgastados enquanto método mais fácil para diminuir a pegada global de carbono. O solo é um forte meio de armazenamento de carbono e contém mais carbono do que a atmosfera e todas as plantas verdes vivas juntas. As plantas de cânhamo aumentam e reconfiguram a capacidade natural da terra para absorver o carbono “excedentário”, aconselhou o Painel.

Melhoria da qualidade do solo

O cultivo do cânhamo melhora o solo onde é cultivado. As raízes penetram em profundidade e absorvem toxinas do solo, bem como CO2 do ar, diretamente para a própria planta onde fica armazenado nas paredes celulares – de forma permanente. Uma cultura de cânhamo industrial cultivado em meio hectare pode absorver anualmente 10 toneladas de CO2 da atmosfera e sequestrar 4.2 toneladas.

O cânhamo é a maior ferramenta de sequestro de carbono na natureza e a sua fibra tem traços únicos – que o tornam importante na atual missão global cujo objetivo é controlar as alterações climáticas. O cânhamo e a construção com cânhamo podem ter um papel decisivo na inversão da crescente acumulação de CO2 que agora ameaça a humanidade e o planeta.