Processo judicial acusa a Aurora de fraude com o objetivo de inflacionar os lucros

Uma ação judicial apresentada num tribunal federal norte-americano alega que a Aurora Cannabis Inc. e um grupo de antigos e atuais executivos inflacionaram os resultados trimestrais em 2019 através de um esquema fraudulento, onde a empresa vendeu a si mesma $21.7 milhões em canábis através de uma terceira empresa.

Essa empresa, a Radient Technologies Inc., foi significativamente controlada pela Aurora e pelos executivos, segundo a ação judicial apresentada no Tribunal Distrital dos EUA em New Jersey. Os queixosos alegam que a Aurora e os seus executivos inflacionaram artificialmente os lucros do quarto trimestre fiscal de 2019, através da venda de canábis seca no valor de $21.7 milhões à Radient em junho de 2019. O processo alega também que a Aurora readquiriu mais tarde a mesma quantidade de flor seca à Radient, num negócio “sem substância comercial”. A Aurora detém 12% da Radient, uma extratora de Edmonton, e tem assento no conselho de administração da empresa.

A BNN Bloomberg noticiou em primeira mão o processo judicial.

‘Preços inflacionados artificialmente’

Os queixosos, que requereram um julgamento com júri, alegam que, tendo em conta que a Aurora deturpou a realidade da empresa, as ações desta foram negociadas a “preços artificialmente inflacionados”, tendo caído mais de 90% desde meados de 2009. Alegam também que a Aurora violou duas disposições da Lei Americana de Valores Mobiliários. 

Além da empresa, os arguidos referidos no processo incluem o antigo diretor executivo Terry Booth, o antigo presidente e membro do conselho de administração Stephen Dobler, o diretor financeiro Glen Ibbott, o antigo diretor corporativo Cam Battley, o presidente executivo Michael Singer, o membro do conselho de administração Jason Dyck e o antigo diretor operacional Allan Cleiren, que ocupava o lugar no conselho de administração da Radient.

O processo judicial afirma que, dadas as dificuldades da Aurora na venda de canábis, os arguidos terão alegadamente fabricado um esquema para cumprir as projeções até ao final do ano fiscal de 2019, recorrendo a uma “venda fraudulenta de canábis junto duma empresa próxima”.

O resultado dessa venda questionável à Radient fez com que a Aurora reportasse lucros ajustados negativos de $11.7 milhões no seu quarto trimestre fiscal de 2019, apesar de vários executivos terem anunciado perspetivas otimistas. “Sem a transação fictícia, a Aurora teria falhado a projeção por uma margem muito maior”, afirma o processo judicial. 

A Radient estava em dificuldades

Os funcionários da Radient citados no processo disseram não haver razão comercial para a processadora de canábis comprar à Aurora $21.7 milhões de canábis. Um antigo funcionário alegou que as operações da Radient eram demasiado pequenas para processar uma quantidade tão grande de canábis num período razoável; outro antigo funcionário disse que “não fazia sentido” a Radient proceder à compra, pois a empresa estava a ter dificuldades em pagar as suas despesas operacionais, e a sua tecnologia extrativa estava ainda em testes.

A Aurora, produtora de marijuana médica e recreativa, bem como de produtos CBD derivados do cânhamo, deixou a Bolsa de Nova Iorque para entrar no Nasdaq Global Select Market, e revolucionou em maio passado o seu conselho de administração, numa possível manobra de redução de custos.

A Aurora, que perdeu $16.8 milhões durante o segundo trimestre de 2021, anunciou esta semana que encerrará uma fábrica em Edmonton para racionalizar ainda mais as operações.