Projeto em Marrocos combina cânhamo e energia solar para se tornar totalmente independente da rede elétrica

Uma equipa de organizações concluiu um inovador edifício ecológico em Marrocos, que combina a construção em cânhamo com um sistema de energia solar de alta tecnologia para uma total independência da rede elétrica.

O projeto SUNIMPLANT, concebido enquanto habitação unifamiliar, foi criado para participar no recente evento “Solar Decathlon”, organizado pelo United States Department of Energy e pelo Centre de recherche en Energie solaire et Energies nouvelles de Marrocos. O concurso internacional bianual desafia as equipas de estudantes a conceber e a construir edifícios alimentados a energia solar. A edição mais recente aconteceu em Ben Guerir, Marrocos, a primeira vez que o concurso decorreu no continente africano.

‘Nave espacial’ avançada

“Esta ‘nave espacial’ é avançada no tempo e é um ponto de viragem não apenas no norte de África, mas também na construção com cânhamo, não tendo protótipos comparáveis em qualquer parte do mundo”, afirmou Monika Brümmer, arquiteta alemã e construtora natural que chefiou o projeto.

Apesar de o edifício ter sido concebido enquanto estímulo para o desenvolvimento rural, a tecnologia pode também ser usada em ambientes urbanos, adiantou Brümmer.

Proprietária da Cannabric, com sede em Espanha, Brümmer é também cofundadora da Adrar Nouh (2017), uma ONG que promove a utilização do talo do cânhamo indígena para o desenvolvimento rural e emprego sustentável na zona empobrecida do Rife em Marrocos. A Adrar Nouh foi fundada em 2017 por Brümmer e Abdellatif Adebibe, especialista marroquino no desenvolvimento alternativo na região do Rife.

O desafio passou por conceber um composto de cânhamo utilizando bio-resinas de base vegetal, sem recorrer a componentes técnicos ou sintéticos, disse Brümmer. O envoltório cilíndrico do edifício circular, com uma exposição mínima dos 24 painéis exteriores, garante o conforto interior através de um excelente amortecimento e mudanças de fase térmica, além da osmose dos componentes na formulação do hempcrete, acrescentou Brümmer.

A natureza aliada à alta tecnologia

Construído por um valor aproximado de $120,000, o edifício custou menos de metade dos mais caros em competição. As caraterísticas adicionais do edifício SUNIMPLANT de 90 m2 incluem:

  • Uma fachada dupla em pele que utiliza uma mistura de cânhamo, terra, pozolana e cal, todos com origem local; e bio-compósitos com fibras técnicas em cânhamo, produzidas com a tecnologia de injeção a vácuo.
  • Uma pele exterior de perfil esférico e aerodinâmico, composta por 24 painéis fotovoltaicos semi-flexíveis. Patrocinados pela DAS-Energy, os painéis encontram-se expostos a todas as faces para utilizar o sol e luz, com perdas máximas de 40%.
  • Painéis curvos bio-compostos fabricados com lã de cânhamo, que aumentam o desempenho dos painéis fotovoltaicos, protegendo a vertente posterior contra os extremos climatéricos da região semiárida de Ben Guerir, onde as temperaturas atingiram uma amplitude de 42°-46°C (107°- 114°F) à sombra durante a fase de construção em agosto e setembro passados.
  • Vidro de alto rendimento produzidos pela fabricante francesa de vidro Saint Gobain

Cooperação internacional

Brümmer afirmou que o desempenho poderia ser ainda mais elevado, se tivessem sido cumpridos os planos originais em relação à instalação de placas de cânhamo-argila nas divisórias e pavimentos interiores, além doutras pequenas modificações. Contudo, estes planos foram colocados de parte devido a restrições financeiras.

Adrar Nouh contribuiu com o projeto arquitetónico, desenvolveu os materiais de cânhamo e participou na construção do edifício. O projeto SUNIMPLANT contou também com a participação da Escola Nacional de Arquitetura de Marrocos e a Escola Nacional de Ciências Aplicadas, ambas sediadas em Tetouan, Marrocos, e o Centro Fraunhofer para a Fotovoltaica de Silício na Alemanha.