Zimbabué espera que o cânhamo e a canábis medicinal consigam melhorar as exportações

As entidades oficiais zimbabuanas dizem que os alívios aplicados às regras para a produção de canábis se traduziram num maior interesse de investimento por parte dos EUA, Reino Unido, Alemanha e Suíça, pois o licenciamento para a canábis medicinal e o cânhamo industrial avança agora a todo o vapor.

Para o governo, a eliminação dos regulamentos que colocavam a canábis sob tutela estatal permitirá que entidades privadas comecem a desenvolver o cânhamo enquanto substituto para a queda das exportações de tabaco no país.

“Este tema tornou-se mais relevante, tendo em conta a ameaça que a indústria do tabaco enfrenta e sabendo que o Zimbabué depende fortemente da produção tabagística”, disse Zorodzai Maroveke, que dirige o Fundo Industrial de Cânhamo do Zimbabué (ZIHT), uma iniciativa de desenvolvimento criada para ajudar os agricultores a iniciar operações com cânhamo, e para procurar novos mercados de exportação para a produção de cânhamo.

Procura por alternativas

“A nossa economia tem de começar a procurar alternativas. Creio que o cânhamo industrial está no topo da lista”, disse Maroveke. “É uma cultura verde, com um enorme impacto social em comparação com o tabaco. Julgo que daqui a dez anos veremos cadeias de valor neste setor num número muito superior ao tabaco”.

O Zimbabué é o maior produtor africano de tabaco, mas o setor tem perdido força face à tendência global tabagística em declínio. Isto tem contribuído para estagnar esta atividade, assolando a economia do país durante quase duas décadas, apesar dos enormes recursos naturais nesta nação africana. O tabaco representa cerca de 20% das exportações zimbabuanas.

O governo já havia afirmado que tencionava colocar a indústria do cânhamo sob âmbito estatal e, há dois anos, começou a fazer ensaios com cânhamo. Mas essa estratégia foi agora colocada de parte para encorajar o investimento privado no cânhamo e na marijuana medicinal, os únicos subsetores em que os operadores podem abrir negócios legais ao abrigo das leis nacionais sobre o cânhamo.

Licenças e arrendamentos

O Zimbabué, que começou recentemente a conceder licenças e arrendamentos de 99 anos em quintas estatais para iniciar o cultivo de canábis, concluiu em fevereiro de 2019 a sua primeira colheita legal de cânhamo industrial, após descriminalizar o cultivo de canábis em 2018. Os regulamentos para a indústria foram publicados em outubro de 2020.

“O Zimbabué foi mais longe para mostrar que está disposto a trabalhar com os seus parceiros e investidores, chegando a um acordo de investidores, que os protegem ainda mais contra qualquer expropriações e alterações legais, o que é altamente positivo”, disse Tino Kambasha da Agência de Desenvolvimento de Investimentos do Zimbabué.

Investimentos de alto risco

Apesar dessas políticas, as empresas no Zimbabué enfrentam elevados riscos legais, um acesso limitado aos mercados internacionais de capitais, pouca moeda estrangeira e desafios significativos na repatriação dos lucros, segundo os grupos que monitorizam o contexto de investimento.

Estes grupos relatam também que a volatilidade do mercado torna a maioria das transações altamente sensíveis ao tempo, especialmente as que exigem conversões de moeda nacional. Os elevados custos operacionais provocados por lacunas nas infraestruturas, interrupções de eletricidade, elevados impostos e custos de financiamento são também considerados desafios à consumação de negócios no Zimbabué.