A febre do CBD chegou ao fim e o cânhamo norte-americano é agora uma sombra de outrora

[Primeira de três partes]

O frenesim no setor do CBD parece estar a chegar ao fim e o cânhamo norte-americano é agora uma mera sombra da glória passada. Os relatórios mostram que a indústria encolheu cerca de 80% em relação ao seu pico de 2019.

De acordo com a empresa investigadora Hemp Benchmarks, sediada em Stamford, no Connecticut, apenas 107.702 acres ao ar livre foram licenciados até agora este ano, em comparação com os 511.442 de há três anos.

Contudo, a dimensão mais crítica são os acres efetivamente explorados – são apenas 22% em relação aos acres licenciados nos últimos três anos. De acordo com estes valores, 2022 está no bom caminho para atingir cerca de 25.000-30.000 acres este outono, em comparação aos 120.000, ou aproximadamente 20-25% do total da colheita em 2019. 

Chart, bar chart

Description automatically generated

 *Estimativa; FONTES: New Frontier Data; USDA; Hemp Benchmarks; HempToday

Indicadores sombrios

A quebra é também visível nestas vertentes:

  • As licenças de cânhamo em 21 estados-chave para o cânhamo caíram 35%. São 5.381 em 2022 contra as 8.298 de 2021, segundo a New Frontier Data numa recente revisão a meio do ano.
  • O Colorado, historicamente o principal estado na produção de cânhamo, sofreu uma queda de 75% em acres plantados, de 18.715 acres em 2021 para 4.727 em 2022; e o Minnesota, o terceiro maior produtor por colheita no ano passado, teve uma queda de cerca de 60%, de 6.191 acres em 2021 para 2.005 este ano, segundo a New Frontier.
  • Num caso fortuito, a consultora PanXchange notou que a Web, a principal produtora em Charlotte, cresceu 862 acres em 2019; mas a receita da empresa de $95 milhões foi conseguida com a biomassa de apenas 57 acres – 6% dos campos plantados.

‘Desequilíbrio’

Ao subestimar gritantemente a queda no CBD como um mero “período de correção”, mas atribuindo a destruição do mercado ao infortúnio do setor da CBD, a análise da New Frontier observou que “a explosão nas áreas exploradas (de cânhamo) foi motivada pelo boom no CBD, e provou estar totalmente desajustada em relação à verdadeira dimensão do mercado do canabinoide”.

“Quando dezenas de milhares de agricultores avançaram para a indústria do cânhamo em 2019, produziram uma grande quantidade de biomassa. Esta nem sempre respeitou as normas federais para o THC e muitas vezes não cumpriu as especificações dos fabricantes de produtos CBD”, constata a análise da New Frontier, escrita por Eric Singular, diretor nesta empresa de dados e também responsável pelas comunicações na corretora de sementes de cultivo International Hemp.

“Podemos assegurar que foi finalmente encontrado um equilíbrio entre a oferta e a procura de canabinoides derivados do cânhamo”, Singular conclui com tibieza.

Outras pressões

Além do excesso que fez o CBD cair do trono, o setor de cultivo do cânhamo encontra-se atualmente sob pressão devido ao aumento dos preços das culturas tradicionais como o milho, a soja e o trigo. Quase todos duplicaram o preço nos últimos meses devido a vários fatores, atraindo a atenção imediata dos agricultores.

As restrições à exportação do trigo ucraniano, resultado da invasão russa; a seca no oeste dos Estados Unidos; as perturbações na cadeia de abastecimento; e os elevados custos de combustível e transporte estão todos a contribuir para o aumento dos preços da maioria das culturas básicas – que os agricultores conhecem bem e que podem obter lucros ao longo dos próximos dois anos ou mais.