A primeira variedade de cânhamo rica em CBG aprovada para figurar no catálogo de plantas da UE

O catálogo de variedades vegetais comuns da EU tem uma nova variedade de cânhamo. Foi feita pela empresa ítalo-neerlandesa Enecta e é a primeira cultivar especificamente produzida com alto conteúdo de canabinóides a surgir na lista oficial.

Rica em canabigerol (CBG), a nova estirpe – chamada Enectarol – foi desenvolvida ao longo de cinco anos de investigação, disse Jacopo Paolini, fundador da Enecta. É um marco importante nos constantes esforços da empresa para criar uma nova geração de estirpes europeias de cânhamo de alto desempenho e elevador teor de canabinóides, que complementam as variedades de fibras e sementes que dominam o catálogo da UE.

“Na Europa há poucas estirpes de cânhamo para canabinóides, pois a maioria das variedades no catálogo deriva de fibras”, disse Paolini. “A nova genética desta indústria está a evoluir a um ritmo incrível, mas o catálogo comum da UE não reflete esta tendência. A falta de novas variedades é um problema para a indústria do cânhamo europeu”.

O que é o CBG?

O CBG (canabigerol) é um dos 120 canabinóides presentes na canábis. Apesar de os stakeholders da canábis estarem há muito concentrados no desenvolvimento do THC e CBD, os investigadores e os criadores de cânhamo estão agora a formar uma equipa para melhor compreender o CBG e desenvolver cultivares ricos em CBG.

O CBG é conhecido como “mãe” ou o canabinóide original, por ser o precursor de CBD (Canabidiol), CBN (Canabinol), CBC (Canabicromeno), e THCA (Ácido Tetrahidrocanabinólico).

O CBG ativa os recetores CB1 e CB2 no sistema endocanabinóide, prometendo manter as qualidades cumulativas de todos os outros canabinóides juntos.

Efeitos terapêuticos

Há estudos que demonstram que o CBG, quando tomado internamente, atua como agente terapêutico para problemas como glaucoma, doença inflamatória intestinal e doença de Huntington, e pode inibir o crescimento tumoral nalguns casos; é sabido que mata ou retarda o desenvolvimento de bactérias e melhora o desenvolvimento ósseo.

No ano passado, a Comissão Europeia adicionou o CBG à base de dados de ingredientes cosméticos da UE (Cosing), estabelecendo o composto como seguro para produtos de saúde e beleza. Para aplicação tópica, o CBG trabalha com os recetores endocanabinóides CB1 e CB2 na pele. Os proponentes dizem que o composto derivado do cânhamo tem propriedades anti-inflamatórias, antibacterianas e antioxidantes que ajudam o sistema endocanabinoide a manter o funcionamento saudável da pele.

Testes recentes com Enectarol em Itália mostraram que a variedade produz 5.5% de CBG e menos de 0.1% de THC, metade do limite previsto nas atuais regras da UE para o conteúdo de THC. (O limite de THC da UE aumentará para 0.3% ao abrigo de uma alteração que entrará em vigor no próximo ano).

Enectaliana para CBD

Enquanto isso, a Enecta desenvolveu a Enectaliana, uma estirpe com elevado teor de CBD, que a empresa enviou também para o catálogo de plantas da UE, fazendo fé na sua aprovação nos próximos meses. Esta variedade contém até 10% de CBD a menos de 0.2% de THC.

A Enecta considera haver mercado para as duas novas variedades na República Checa, Alemanha, Polónia, Croácia, Roménia, Grécia, Hungria, Lituânia, França e Espanha, pois estes países partilham condições climáticas semelhantes às de Itália.

Ambas as variedades Enecta têm uma taxa de germinação comprovada de cerca de 95%, muito acima da exigência de 70-80% imposta pela UE. Enquanto variedades fotossensíveis, em contraste com as autoflorescentes, Enectarol e Enectaliana têm tido um forte desempenho em áreas que vão desde a Grécia até à Lituânia, gerando uma produção abundante de biomassa enquanto diminuem a criação de sementes e o desperdício de caules.

Garantia para os agricultores

Para entrarem na lista oficial de plantas da UE, as novas variedades devem ser submetidas a vários testes científicos que comprovam a produção de plantas uniformes e estáveis. Para os produtores, plantar cultivares aprovadas não é apenas garantia da qualidade das plantas, mas um pré-requisito para receber subsídios agrícolas diretamente da UE, fator crítico na tomada de decisões agrárias.

Estes testes e standards sujeitos a certificação são fundamentais para a indústria global do cânhamo, o que contribui para a transparência, fator ainda ausente em muitos patamares da cadeia de fornecimento de cânhamo, disse Paolini.

“Todos sabem que os consumidores e cultivadores ainda têm dificuldade em descobrir o que estão a comprar ou plantar”, disse Paolini. “Isto é crucial quando estamos a plantar, por exemplo, uma grande variedade de CBD e, devido à fraca estabilidade genética, as plantas não produzem o esperado. Precisamos dessas sementes de cânhamo da nova geração para revolucionar a indústria do CBD”.

Qualidade através da transparência

“Chama-se ‘cadeia de fornecimento’ por uma razão; a qualidade passa de um elo para o outro. Uma abordagem mais holística é a única com futuro garantido”, acrescentou.

A Enecta conta com mais de 10 anos de experiência nas indústrias do cânhamo e CBD, tendo parcerias com investigadores líderes como o Giesen Research Group, da Holanda, e a Becanex, conceituada empresa de extração berlinense que abastece os setores alimentar e cosmético.

Além da sua divisão de genética, a Enecta produz e vende produtos canabinóides de alta concentração para as indústrias médica, farmacêutica e nutracêutica. Fundada na Holanda em 2012, a Enecta tem sede em Bolonha, Itália.