À medida que a África se abre à canábis, ‘o assunto não se limita à marijuana’

África pode construir uma indústria dedicada ao cânhamo com base em cadeias de fornecimento operacionalizadas localmente. Porém, as muitas nações do continente necessitam de conhecimentos e investimento do estrangeiro, sugeriu a recém-fundada Panafrican Hemp Association (PHA).

À medida que os governos de todo o continente africano expandem a legalização da canábis de várias formas, e os investimentos começam a chegar às operações africanas dedicadas à canábis, o entusiasmo não se fica pela marijuana, afirmou Malobi Ogbechie, fundador e diretor-geral da associação recentemente fundada e sediada em Lagos, Nigéria.

“Em conversas com diferentes stakeholders africanos, percebo que o maior entusiasmo advém das propriedades industriais – que recorrem à fibra de cânhamo, que utilizam o cânhamo na construção, nas indústrias automóvel e têxtil”, disse Ogbechie.

Quem irá investir?

Apesar de os Estados Unidos e os países europeus poderem facultar os seus conhecimentos especializados – e mercados – às empresas africanas de cânhamo, continua por saber quem irá investir o capital intelectual e o financiamento de que a indústria necessita para o desenvolvimento em África.

“Há bastante conhecimento especializado e investimento a chegar da América do Norte e haverá também laços a estreitar com a Europa, dada à proximidade do mercado e dos fusos horários”, disse Ogbechie.

“Se os africanos não construírem a indústria, outros fá-lo-ão. Se a diáspora não investir em África, outros tratarão disso”, afirmou Ogbechie. “A China está a obviamente dominar o mercado, como tal, em termos de maquinaria, fornecimento de sementes e conhecimento especializado, haverá muita colaboração. Não somos necessariamente avessos a isso”.

A nova associação pretende cimentar um forte contexto industrial, ágil o suficiente para poder responder às necessidades dos muitos e variados mercados de África. “As coisas funcionam de forma diferente em África, cada país tem as suas leis e formas de tratar das questões”, disse Ogbechie.

A vantagem de África

Da genética à agricultura, passando pelo processamento e inovação, os produtores africanos de cânhamo necessitarão de ajuda significativa para colocar a indústria a funcionar. Mas o continente tem vantagens impactantes. “Temos vastas terras e muito bom clima”, disse Ogbechie. “E o lado positivo em África é que podemos saltar muitos passos. Podemos avançar diretamente para soluções que já provaram serem eficazes. Ou seja, a nossa indústria irá do zero a 100 muito rapidamente”.

Com África a viver um boom no seu desenvolvimento global – seis dos 10 países líderes em crescimento estão no continente, de acordo com o Fundo Monetário Internacional – Ogbechie e outros interessados olham para o cânhamo como uma ferramenta a ser desenvolvida ainda mais rapidamente, mas de forma mais sustentável.

“Prende-se com questões ambientais e a versatilidade deste tipo de cultivo, o facto de ser sustentável e de uma só planta fornecer tantos produtos finais. Tem o potencial de transformar industrialmente as economias”, disse Ogbechie.

Inspiração

Ogbechie afirmou que foi o valor das associações formais dedicadas ao cânhamo no Reino Unido, Europa e América do Norte que o inspirou a fundar a PHA. “São entidades que acrescentam grande valor às suas indústrias, e precisaremos de estruturas semelhantes e de boa organização caso queiramos fazer cânhamo em África”, disse.

Mas a PHA não quer apenas imitar outros ou mesmo definir-se de forma preventiva. “Temos, por um lado, a estrutura de uma associação, mas, como esta está a dar os seus primeiros, queremos permanecer abertos, flexíveis e ambicionamos compreender as diferentes necessidades dos países e de determinadas empresas ou projetos”, disse Ogbechie.

Alcance internacional

A PHA pretende desenvolver relações com nações africanas, mas também com o estrangeiro. “Procuramos parceiros internacionais e instituições educativas, empresas, cooperativas e consultores dedicados ao cânhamo”, afirmou Ogbechie. “Recebemos muitos pedidos de conhecimentos técnicos e de orientação e queremos acrescentar isso à nossa base de dados”.

A jovem associação já se encontra ativa, organizando conversas em grupo e webinars, enquanto tenta fazer a ponte entre as partes interessadas e os projetos de cânhamo. Ogbechie afirmou que no próximo ano haverá um esforço para expandir o número de membros, sendo que a associação está aberta a qualquer pessoa com interesse na indústria africana do cânhamo. As partes interessadas podem aderir gratuitamente online.